Jerome Cadier, CEO da Latam Brasil, que nunca tem medo de abordar temas complexos do setor aéreo, como a crescente judicialização de ações contra companhias aéreas, novamente surpreendeu ao relatar em seu perfil do LinkedIn um incidente envolvendo bird strike e como esse tipo de evento desencadeia uma série de ações judiciais contra a empresa, mesmo sendo causado por fatores fora de seu controle. Além disso, Cadier destaca a importância de discutir desafios sistêmicos do setor, reforçando a necessidade de diálogo transparente.
Direto ao Ponto
> > > O que disse Jerome Cadier
> > > O que é bird strike?
> > > Atualização: Jerome Cadier publica um novo texto
> > > O Impacto do Debate
Um debate sobre judicialização do setor aéreo
Como era de se esperar, suas publicações geraram debates acalorados na seção de comentários. Vale destacar que, ao contrário do que muitos imaginam, Jerome não censura nenhuma opinião, mantendo todas as perspectivas visíveis em seu perfil. Esse é um dos traços mais admiráveis de sua gestão: ele se destaca como um dos poucos CEOs globais que promovem um “diálogo franco e aberto”, sem receio de interagir diretamente com o público, incluindo usuários comuns como nós do perfil gmapas.
Por um lado, é possível concordar ou discordar de suas postagens, mas é inegável que sua abordagem é corajosa e inovadora. Afinal, ao se expor publicamente em uma plataforma aberta até para não usuários do LinkedIn, Cadier desafia convenções corporativas e amplia o debate sobre temas críticos da aviação.
No contexto do texto, a equipe do gmapas interpreta o “desabafo” de Cadier como uma crítica irônica ao número desproporcional de ações judiciais contra empresas aéreas no Brasil. De fato, o país lidera globalmente nesse ranking, cenário que já se tornou objeto de estudos acadêmicos, reportagens internacionais e até justificativa para investidores evitarem o mercado brasileiro de aviação. O motivo? O alto custo gerado pela judicialização, que encarece operações e reduz atratividade econômica.
No entanto, esse fenômeno não se limita ao setor aéreo. Em virtude de um modelo jurídico que frequentemente desconsidera contratos, as relações de consumo no Brasil são marcadas por revisões judiciais imprevisíveis, minando a segurança jurídica.
O que disse Jerome Cadier
Como Jerome Cadier afirmou:
“Hoje um desabafo! Agora há pouco, mais uma colisão com pássaro (chamado ‘bird strike’ na aviação). A aeronave voltou em segurança mas obviamente o voo foi cancelado, atrapalhando a vida de todos os passageiros, e obviamente da cia aérea também. Posso apostar com voces que a primeira ação na justiça contra a cia aérea, pedindo indenização por dano moral por cancelamento deste voo vai chegar amanhã mesmo…e assim segue a aviação brasileira…a pergunta é: quem paga a conta?”

Imediatamente após a publicação, os comentários explodiram, com relatos de frustrações e até críticas agressivas. Contudo, poucos usuários abordaram o cerne da questão levantada por Cadier: a judicialização excessiva que paralisa a expansão de rotas aéreas e desestimula a entrada de novas empresas no Brasil.
Ao perguntar “quem paga a conta?“, Cadier fez uma provocação retórica à cultura de litigiosidade do país. Embora muitos tenham respondido de forma emocional, poucos captaram a mensagem central: a necessidade de equilíbrio entre direitos do consumidor e sustentabilidade empresarial.
O que é bird strike?
Bird strike refere-se à colisão entre aves e aeronaves, um risco significativo para a segurança na aviação. Esses incidentes geralmente ocorrem durante decolagens ou pousos e podem danificar motores, turbinas ou até comprometer o voo.
Embora as empresas aéreas adotem medidas preventivas (como controle de fauna em aeroportos), fatores ambientais e migratórios tornam o problema inevitável em muitos casos. Apesar disso, a legislação brasileira frequentemente responsabiliza as companhias, mesmo quando o evento é imprevisível, reforçando o ciclo de judicialização criticado por Cadier.
Atualização: Jerome Cadier publica um novo texto
Diante da grande repercussão de sua publicação anterior intitulada “Desabafo”, que imediatamente fez “estourar” a caixa de comentários de seu perfil no LinkedIn, Jerome Cadier publicou hoje um complemento ao texto. O conteúdo, que reproduzimos na íntegra abaixo, detalha o que ele realmente quis expressar em sua manifestação inicial.
Vale destacar que, após viralizar nas redes sociais, o caso rapidamente se transformou em notícia e ganhou manchetes em dezenas de portais brasileiros.
Hoje uma explicação!
O meu post de ontem sobre colisão com ave (“bird strike”) gerou muitos comentários. Li a grande maioria deles e pela minha incapacidade de responder a todos individualmente, resolvi voltar no tema com mais detalhes. Assim explico aqui o que o post de ontem não deixou claro.
Colisão com aves não são raras. Em 2024, na Latam Brasil foram 562 eventos (1.5 eventos por dia), alguns mais graves e outros mais leves. Os pousos foram sempre seguros.
Em todos os casos, analisamos a gravidade e os reparos necessários. No total, as aeronaves envolvidas ficaram mais de 750 horas paradas e impactamos mais de 30 mil passageiros com cancelamentos e atrasos.
O meu desabafo é porque muitos destes eventos são evitáveis. Os aeroportos e os municípios são responsáveis pelo manejo da fauna. É um trabalho importante e que protege os pássaros e as aeronaves. Sem investimento consistente e relevante, o custo total é muito maior.
Quem paga este custo? Os passageiros! Os reparos nas aeronaves tem um custo que é incorporado no preço da passagem. O mesmo ocorre para o custo da aeronave parada (leasing), o tempo perdido pela tripulação e a alimentação/acomodação definida na resolução 400, não só para os passageiros do voo em questão mas para todos os voos seguintes que esta aeronave iria executar. É um impacto enorme, que poderia ser muito reduzido com um manejo adequado da fauna.
E sobre ações na justiça? Muitos criticaram meu desabafo. Criticaram com razão, pois estava mal explicado. Sempre que alguém julgar que foi prejudicado, tem que reclamar. Se a reclamação não for resolvida a contento, tem a justiça à sua disposição. Que bom que seja assim! Nunca critiquei isto. Meu ponto é que a cia aérea não é responsável pelo manejo de fauna, assim como não é responsável pelo mau clima que impossibilita uma decolagem ou pouso em segurança. Por isto, não deveria ser responsabilizada, muito menos ser condenada a pagar danos morais pelo atraso ou cancelamento decorrente. Mas novamente aí vale a mesma coisa: este custo, quem acaba pagando é o passageiro.
Desabafo porque o Brasil concentra mais de 98% das ações na justiça no mundo e somente 3% dos voos. Tem algo errado nisto. Muitos vão dizer que é porque as cias brasileiras são ruins. Lamento discordar e tenho dados para provar isto (não opiniões, fatos). Mas isto é assunto para outro post.
Agradeço aos que tiveram a paciência para chegar até o final deste texto. Tenho certeza que aprenderam algo. Refletindo sobre o meu post de ontem, eu deveria ter explicado melhor o desabafo. Mais importante que criticar e ofender (como foi o caso de vários comentários) meu caminho será sempre de respeitar, dialogar e buscar entender. Afinal eu acho que estamos todos aqui para aprender. Eu aprendi: não farei mais desabafos desta forma!
O Impacto do Debate
O desabafo de Cadier ultrapassou as barreiras das redes sociais e abriu um debate crucial sobre bird strikes no Brasil. Ainda que não fosse sua intenção inicial, o executivo colocou holofotes em um problema crônico – ignorado há anos, mas que pode ser mitigado com medidas muitas vezes simples, desde que haja ação coordenada do poder público.
Além disso, Cadier reforçou um dado alarmante que já havíamos destacado em sua primeira publicação: a judicialização excessiva do setor aéreo brasileiro é um recorde negativo em escala global. O gestor conectou de maneira clara eventos fora do controle das companhias (como colisões com aves) aos custos e desafios jurídicos que elas enfrentam.
Por fim, a segunda publicação, mais técnica e detalhada, só reforça uma convicção: gerir uma companhia aérea está entre os negócios mais complexos do mundo moderno. Entre riscos operacionais, pressões econômicas e responsabilidades atípicas, fica evidente que cada decisão nesse setor exige equilíbrio entre segurança, eficiência e sustentabilidade financeira – um verdadeiro desafio de gestão.
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