A complexidade da indústria aérea: desafios e perspectivas
Os desafios da gestão de operações aéreas
Lembro-me como se fosse ontem. Em 1988, meu primeiro voo de avião com a companhia aérea Varig para Buenos Aires foi uma experiência marcante.
A ansiedade misturada com um pouco de medo enquanto aguardava o embarque me fez refletir sobre a complexidade da aviação civil. Um aeroporto lotado é um microcosmo da viagem de avião, com passageiros apressados, funcionários concentrados e o barulho constante de anúncios e motores. Pensei: “Como tudo isso pode dar certo?”
Muitas pessoas, dezenas de setores diferentes envolvidos, procedimentos complexos. Um erro mínimo pode ter consequências desastrosas. Pilotos, copilotos, comissários, técnicos, controle de tráfego aéreo desempenham papéis cruciais para garantir a segurança aérea. Enquanto refletia sobre esses pensamentos, meu nome foi chamado para o embarque (naquele tempo era assim). Ao entrar no avião, fui recebido pelo sorriso caloroso da comissária. A decolagem ocorreu sem contratempos.
Durante o voo, observei a tripulação de voo trabalhando em sintonia. A coordenação, a comunicação e a precisão demonstravam o alto nível de profissionalismo do pessoal da Varig. Percebi que, apesar da complexidade, cada detalhe era cuidadosamente planejado e executado para proporcionar uma experiência de voo segura e confortável enquanto as instruções de segurança (que ninguém prestava atenção) eram repassadas.
Com o passar dos anos e mais vôos no currículo, minha convicção se firmava: Companhia Aérea tem tudo para dar errado.
A cada novo voo, minha convicção se solidificava: a aviação comercial é um setor repleto de variáveis que podem levar a imprevistos. Apesar disso, a maioria dos passageiros embarca e desembarca sem maiores problemas, e logo esquece os detalhes da viagem.
Por que tantas incertezas na aviação? A resposta é simples: são inúmeros os fatores externos que podem afetar uma operação aérea, desde condições climáticas adversas até falhas técnicas em aeronaves. A companhia aérea, mesmo não sendo a responsável direta por muito dos problemas, sofre as consequências, como atrasos, cancelamentos e custos operacionais elevados.
Imagine um voo cancelado devido ao fechamento de um aeroporto por causa de uma tempestade. A empresa aérea precisa arcar com os custos de hospedagem dos passageiros, além de lidar com a insatisfação dos clientes. Ou ainda, um incidente grave causado por combustível contaminado, como o ocorrido com o voo Cathay Pacific 780. Esses são apenas alguns exemplos de como a aviação comercial é um setor de alto risco. Tenho conhecimento de inúmeros casos semelhantes, como o voo da Air Canada que retornou a Toronto após quatro horas de voo devido a uma medida de segurança.
Foi com grande interesse que encontrei uma série de artigos escritos pelo Presidente da Latam Brasil, Jerome Cadier, que abordam em detalhes os desafios enfrentados pelas companhias aéreas. Seus insights são valiosos para quem busca entender melhor os bastidores da aviação comercial. E são detalhes de quem está dentro de uma grande operação de aviação.
Em um artigo ele faz a síntese de tudo que sempre imaginei de uma operação área:
“…a operação da tua empresa é exposta a tudo que acontece no sistema. E voce sente imediatamente o impacto de coisas que acontecem fora do seu controle direto”…
E continua:
“Na aviação, uma empresa opera em um ambiente que compartilha com todas as outras, conconrrentes inclusive. Se um aeroporto tem problemas de sistema, afeta a todas as cias que operam lá. Se um concorrente tem problemas de pontualidade na sua operação em aeroportos congestionados, voce também não consegue ser pontual já que a infraestrutura é uma só. Se as filas da imigração estão acima do normal, seus passageiros perdem suas conexões e devem ser reacomodados em outros voos causando enorme transtorno. Se o manejo da fauna em torno do aeroporto não é adequado, teus aviões tem mais colisões com pássaros, cancelamentos e custos extras. Se um vulcão entra em erupção na Islandia e obriga os aviões a desviarem suas rotas, voce gasta mais combustível, gera atrasos e cancelamentos de voos. Vamos mais simples? Se chove ou venta muito em determinado dia, os atrasos, cancelamentos e alternados podem levar dias para serem corrigidos. Se ocorre um tiroteio em uma aeroporto chave, muitos passageiros perdem seus voos ou desistem de voar naquele dia. Se um avião de um concorrente pega fogo ao pousar na pista e esta fecha por várias horas, isto provoca atrasos enormes e passageiros revoltados pela situação.”
Há outras dezenas de publicações no perfil de Jerome Cadier que são extremamente interessantes para quem acompanha aviação ou como no meu caso só voa.
Quem é: Jerome Cadier, CEO Latam Brasil
Crédito da foto: Divulgação Perfil no Linkedin