Neue Galerie: Um Portal para a Arte Alemã e Austríaca em Nova York

O Retrato de Adele Bloch-Bahuer I

A Neue Galerie, situada na icônica Quinta Avenida de Nova York, é muito mais do que um museu; é um santuário dedicado à arte e ao design alemão e austríaco do início do século XX. Fundada em 2001, esta instituição singular nasceu da visão e paixão de dois colecionadores notáveis: Ronald S. Lauder e Serge Sabarsky.

Direto ao Ponto

> > > História do Museu
> > > A Dama Dourada: A Extraordinária Saga do “Retrato de Adele Bloch-Bauer I”
> > > A Mona Lisa Lisa da Áustria
> > > Minha Peregrinação à Neue Galerie: Um Encontro com a História e a Arte
> > > Informações práticas para visitantes

Os fundadores da Neue Galerie em Nova York

Ronald S. Lauder, um empresário e filantropo conhecido mundialmente, é um profundo admirador da arte austríaca e alemã. Sua vasta coleção pessoal forma o cerne do acervo da Neue Galerie. Ao seu lado, Serge Sabarsky, um renomado marchand e especialista em arte expressionista alemã, complementava a visão com seu próprio acervo e sua vasta experiência no mundo da arte. A união desses dois entusiastas resultou na criação de um espaço que celebra a riqueza cultural de uma era vibrante.

História do Museu

O nome do museu, Neue Galerie, é de origem alemã e significa “Nova Galeria”, um nome que evoca a modernidade e a vanguarda das obras que abriga.

Edifício na quinta avenida em Nova York onde funciona a New Galeria em Nova York
Crédito: gmapas.com – Neue Galery em Nova York

O acervo permanente do museu é meticulosamente curado, abrangendo diversas formas de arte, desde a pintura e escultura até o design de mobiliário e objetos decorativos. A coleção de Ronald S. Lauder, particularmente rica em obras de Gustav Klimt, Egon Schiele, Oskar Kokoschka e Lyonel Feininger, é um dos grandes destaques.

O legado de Serge Sabarsky, por sua vez, contribuiu com uma significativa coleção de arte expressionista alemã, solidificando a abrangência do museu.

Antes de se tornar a Neue Galerie, o magnífico edifício que a abriga era uma residência privada. Ocupando um espaço que já foi a casa do filantropo William Starr Miller, este palacete foi construído em 1914 e projetado pelo arquiteto Carrère & Hastings, renomados por seu trabalho na Biblioteca Pública de Nova York. A arquitetura do edifício é um exemplo primoroso do estilo beaux-arts, caracterizado por sua grandiosidade, simetria e ornamentação clássica. A história do prédio em si, com suas paredes que testemunharam a alta sociedade nova-iorquina, adiciona uma camada de charme e elegância à experiência do museu.

Crédito: gmapas.com – Fachada lateral Neue Galeria em Nova York. Aqui está a entrada do museu.

Ao adentrar a Neue Galerie, os visitantes são convidados a explorar seus múltiplos espaços. O museu se distribui por diversos andares, cada um dedicado a diferentes coleções e instalações. As galerias são projetadas para proporcionar uma experiência intimista e contemplativa, permitindo que os visitantes se conectem profundamente com as obras de arte. Além das exposições permanentes e temporárias, a Neue Galerie oferece uma série de amenidades que enriquecem a visita.

O Café Sabarsky, nomeado em homenagem a um dos fundadores, é um charmoso café vienense que transporta os visitantes para as famosas casas de café da Europa. O Design Shop, a loja do museu, oferece uma seleção de livros, joias e objetos de design inspirados nas coleções, ideal para encontrar lembranças únicas.

A Dama Dourada: A Extraordinária Saga do “Retrato de Adele Bloch-Bauer I”

No coração da Neue Galerie, residindo como a joia da coroa de seu acervo, encontra-se uma obra de arte que transcende a mera pintura: o “Retrato de Adele Bloch-Bauer I”, de Gustav Klimt. Esta tela dourada não é apenas uma obra-prima do Art Nouveau, mas também o epicentro de uma das mais dramáticas e comoventes sagas de restituição de arte do século XX.

Para compreender a profundidade desta história, precisamos primeiro conhecer a família Bloch-Bauer. Os Bloch-Bauer eram uma proeminente família judaica vienense, cujo sucesso nos negócios, especialmente na indústria do açúcar, lhes conferiu uma posição de destaque na sociedade e uma significativa contribuição para a vida cultural e artística de Viena. Eles eram mecenas das artes, e sua casa era um ponto de encontro para os intelectuais e artistas da época, incluindo o próprio Klimt. Sua origem judaica, um detalhe crucial nesta narrativa, marcou o destino da família de forma indelével.

O pintor, Gustav Klimt, foi uma figura central do movimento Art Nouveau e um dos mais importantes artistas austríacos. Sua biografia é marcada por uma incessante busca pela beleza e pela representação da psique humana. Klimt era um mestre em retratar a feminilidade, e suas obras, caracterizadas por ricos ornamentos e uma atmosfera etérea, revolucionaram a arte de seu tempo. Seu legado continua a inspirar e fascinar, tornando-o um ícone do modernismo.

A relação entre os Bloch-Bauer e Klimt era profunda e multifacetada. Ferdinand Bloch-Bauer, o marido de Adele, encomendou a Klimt vários retratos de sua esposa. Este relacionamento, que ia além do profissional, e que alguns historiadores especulam que poderia ter tido um caráter romântico, culminou na criação de cinco obras, sendo o “Retrato de Adele Bloch-Bauer I” a mais célebre delas. Klimt pintava muitas senhoras da alta sociedade vienense, que eram sinônimo do glamour vienense da época, e Adele era uma delas, destacando-se por sua elegância e inteligência.

A tela dourada do “Retrato de Adele Bloch-Bauer I”, com suas características ornamentais e simbolismo complexo, representava o ápice da arte de Klimt.

Reprodução da obra de arte de Klimt, do quadro o Retrato de Adele Bloch Bauer na livraria da Galeria Neue em Nova York, Estados Unidos.
Crédito: gmapas.com – Reprodução do quadro ” O Retrato de Adele Bloch-Bahuer na livraria da Galeria Neue em Nova York

Com a ascensão do regime nazista e o advento da Segunda Guerra Mundial, a Áustria foi anexada pela Alemanha em 1938, dando aos judeus austríacos o mesmo tratamento desumano que já era imposto aos judeus alemães. A política nazista de extermínio e roubo sistemático de bens , incluindo obras de arte, devastou inúmeras famílias judaicas. A família Bloch-Bauer foi uma das maiores vítimas desse roubo de arte. O magnífico Palais Bloch-Bauer, a residência de quatro andares da família em Viena, foi invadido e suas obras de arte, incluindo o retrato de Adele, foram roubadas.

O roubo das artes foi perpetrado, em grande parte, pelo advogado nazista e antissemita Erich Führer. Führer, ciente do valor das obras de arte, mesmo aquelas que não se encaixavam perfeitamente no gosto estético nazista (Hitler tinha grande aversão ao modernismo, e Klimt era notório filosemita, amigo de judeus), agiu com calculismo. Embora a tela dourada do retrato de Adele possuísse características que poderiam ser consideradas “degeneradas” pelos nazistas, e o fato de Adele ser judia, o que era um inconveniente insuperável, Führer, em vez de entregar a obra a fúria nazistas, entregou-a aos curadores da Galeria Austríaca no Palácio Belvedere. Lá, o quadro foi exposto, mas sem qualquer referência à mulher retratada e, crucialmente, omitindo sua origem judaica. O “Retrato de Adele Bloch-Bauer I” passou a ser conhecido simplesmente como a “Dama Dourada”, um pseudônimo que apagava sua verdadeira identidade e história.

A Mona Lisa da Áustria

A “Dama Dourada” rapidamente se tornou um ícone cultural da Áustria, sendo conhecida como a “Mona Lisa da Áustria”. Sua importância para o turismo e para o patrimônio cultural do país era inegável, atraindo multidões ao Palácio Belvedere e tornando-se a obra de arte mais citada e visitada do museu.

A Cegueira do Preconceito: O Retrato de Adele e Sua Mensagem Poderosa

É intrigante observar como o preconceito sempre nasce de ideias preconcebidas. Uma vez que essas noções são removidas, a verdadeira libertação surge. O quadro com o Retrato de Adele Bloch-Bauer I, uma obra de arte icônica de Gustav Klimt, serve como uma das provas mais contundentes da irracionalidade de qualquer forma de preconceito.

Considere a Áustria da época: um país com uma cultura fortemente antissemita, que vergonhosamente abraçou o nazismo e seus ideais. Contudo, essa mesma nação adorava o Retrato de Adele, sua “Mona Lisa”, sem saber que a figura central era justamente uma mulher judia. A origem judaica de Adele foi zelosamente ocultada, revelando a hipocrisia e a estupidez do preconceito.

Esta história destaca a arte como um espelho da sociedade, forçando-nos a confrontar verdades desconfortáveis sobre a história e a cultura. O Retrato de Adele não é apenas uma pintura; é um símbolo poderoso contra a ignorância e a intolerância.

Anos após o fim da guerra, a Áustria começou a confrontar seu passado nazista (não esqueçamos, Hitler era austríaco) e a reconhecer o roubo sistemático de obras de arte dos judeus.

Uma disputa judicial que se estendeu por mais de dez anos, retratada no filme “A Dama Dourada” (Woman in Gold), estrelado por Helen Mirren e Ryan Reynolds, travou-se entre o governo austríaco e Maria Altmann, a única descendente viva de Adele Bloch-Bauer.

Maria lutou incansavelmente pela restituição não apenas do retrato de Adele, mas de outras obras de Klimt que pertenciam à sua família e haviam sido roubadas.

Em um veredito histórico, uma Comissão de Arbitragem na Áustria restabeleceu que os quadros roubados deveriam ser devolvidos a Maria Altmann.

Maria, com a dor e as memórias da guerra ainda vivas, decidiu que não queria mais negócios com os austríacos. Em um movimento que reverberou pelo mundo da arte, Maria vendeu o “Retrato de Adele Bloch-Bauer I” ao colecionador Ronald S. Lauder por uma quantia impressionante de 135 milhões de dólares, tornando-o uma das obras de arte mais caras já vendidas.

Para a venda do icônico quadro, Maria estabeleceu uma condição crucial: a obra de arte deveria estar sempre em exibição pública. Ronald S. Lauder, ao adquirir a pintura, aceitou este termo, garantindo assim que o público continuaria a ter acesso a esta peça histórica. Assim, a “Dama Dourada”, o Retrato de Adele Bloch-Bahuer encontrou seu lar definitivo na Neue Galerie em Nova York, onde pode ser contemplada em toda a sua glória, com sua verdadeira história finalmente contada.

Minha Peregrinação à Neue Galerie: Um Encontro com a História e a Arte

Minha fascinação pela “Dama Dourada” começou de forma inesperada. Um dia, por acaso, assisti ao filme “A Dama Dourada” (Woman in Gold), dirigido por Simon Curtis em 2015, em um serviço de streaming.

Cartaz de divulgação do filme A Dama Dourada, em inglês, Woman in Gold.
Crédito: Divulgação

A trama, que revelava a extraordinária saga da restituição do quadro, me cativou instantaneamente. Ao descobrir que o filme era baseado no livro “The Lady in Gold: The Extraordinary Tale of Gustav Klimt’s Masterpiece” de Anne-Marie O’Connor, senti a necessidade de aprofundar-me na história. Afinal, todos sabemos que um filme baseado em um livro, por mais fiel que seja, sempre condensa detalhes.

Adquiri o livro, que em português brasileiro recebeu o título “A Dama Dourada: O Retrato de Adele Bloch-Bauer”, e mergulhei em suas páginas.

A leitura do livro me deixou absolutamente fascinado com a extraordinária e comovente história do quadro. A saga de roubo, luta e restituição, somada à beleza inigualável da obra, despertou em mim um desejo irrefreável: eu precisava ver o “Retrato de Adele Bloch-Bauer I” em sua atual casa, a Neue Galerie. Era uma peregrinação que se tornou imperativa.

Crédito: gmapas.com – Livro A Dama Dourada, Retrato de Adele Bloch-Bahuer de Anne-Marie O’Connor em frente a Neue Galerie em Nova York.

É importante ressaltar que o filme se foca no retrato de Adele, mas os descendentes de Adele buscaram a devolução de outras obras de Klimt que pertenciam à família e foram roubadas, mostrando a amplitude do impacto nazista na coleção Bloch-Bauer.

Cheguei ao museu em um dia ensolarado, sem ingresso comprado antecipadamente – uma pequena falha de planejamento, já que é possível adquiri-los com antecedência no site do museu. No entanto, a compra no local foi rápida e eficiente. Antes de adentrar o edifício, passei por um detector de metais e uma revista de bolsas maiores (estava com uma mochila), um procedimento de segurança padrão em museus de grande porte. Havia um local conveniente para guardar bolsas pequenas e casacos, o que me permitiu explorar o museu com mais liberdade.

Cartão de boas vindas a Neue Galerie em Nova York com instruções em inglês no verso para o visitante.
Crédito: gmapas.com – Cartão de boas vindas a Neue Galerie em Nova York com instruções em inglês no verso para o visitante.

Com o ingresso em mãos, minha prioridade era clara: subir diretamente para o andar onde a “Dama Dourada” repousava. Ao me aproximar da obra, senti uma emoção indescritível. Contemplei-a por mais de uma hora, absorvendo cada detalhe da pintura, imaginando a complexidade do trabalho do pintor. Especulei sobre os pensamentos que rodeavam Adele enquanto posava para Klimt, e a velha questão “Será que foram amantes?” ecoava em minha mente, sabendo da fama do pintor por se relacionar com suas retratadas além do horário de pose.

O quadro está em uma posição de destaque na galeria, elegantemente iluminado, e nenhuma outra obra parece rivalizar com sua presença imponente.

O “Retrato de Adele Bloch-Bauer I” é notavelmente protegido por um vidro espesso. Os seguranças me informaram que, apesar de sua aparência de fragilidade e de ser quase imperceptível para olhos menos atentos, este vidro resiste a impactos de até certas explosões. A transparência e discrição do vidro são impressionantes; só se percebe sua existência ao se aproximar muito, garantindo que nada atrapalhe a visualização da obra-prima.

Após passar um tempo considerável “paquerando” Adele, decidi explorar as outras obras do museu, que se concentram na rica cultura austríaca e alemã do início do século XX. As coleções de arte, design e arquitetura me transportaram para um período de efervescência artística e intelectual, enriquecendo ainda mais minha visita.

De volta ao andar térreo, explorei os espaços adicionais do museu. O Café Sabarsky, com sua atmosfera vienense autêntica, era um convite irresistível para um café e um doce. Depois, visitei a livraria, que, como era de se esperar, estava repleta de material sobre Klimt, além de outros livros de arte e design. O ambiente charmoso da loja adicionou um toque especial à experiência.

Por fim, desci ao subsolo, onde ficam os banheiros e, para o visitante mais desatento, pode passar despercebido um tesouro “escondido”: uma reprodução do quadro de Adele, estrategicamente posicionada ao lado de um banco, perfeita para fotos.

Essa reprodução do quadro de Adele com um banco para fotos está no sub-solo do museu, próximo aos banheiros. Um visitante desatento pode não notar esse local para fazer uma foto de lembrança do quadro mais famoso do lugar
Crédito: gmapas.com – Essa reprodução do quadro de Adele com um banco para fotos está no sub-solo do museu, próximo aos banheiros. Um visitante desatento pode não notar esse local para fazer uma foto de lembrança do quadro mais famoso do lugar.

No andar das obras, fotografar é estritamente proibido, e o quadro de Adele é supervigiado. Basta a menção de tirar o celular do bolso, e um dos três seguranças próximos ao quadro já intervirá com discrição, porém com firmeza. Apesar de atentos e próximos, os seguranças permanecem em uma posição que não atrapalha a experiência de visitação, permitindo que os visitantes desfrutem da arte sem interrupções.

Com a foto da reprodução garantida subi novamente para a entrada, peguei minha mochila e me despedi de Adele, levando comigo a profunda certeza de que nem mesmo ela poderia imaginar a extraordinária saga que seu retrato percorreu ao longo da história. A Neue Galerie não é apenas um museu; é um testamento à resiliência da arte e da memória.

Informações práticas para visitantes

Horário: Segunda, quarta e domingo, das 10h às 18h, porém a última entrada é permitido até às 17:30.

Ingressos: Podem ser adquiridos no local ou através do site. Visitas auto guiadas. Caso deseje você pode utilizar um áudio guia digital através do aplicativo Bloomberg Connects. O aplicativo pode ser acessado no museu ou fora dele.

– Idosos US$ 18 dólares. Para pessoas acima de 65 anos ou mais.

– Estudantes e educadores – US$ 15 dólares. Necessário um documento de identificação válido necessário.

– Visitantes com deficiência – US$ 15 dólares. Tarifa reduzida.

– Visitantes de 12 a 16 anos devem estar acompanhados por um adulto. Crianças menores de 12 anos não são permitidas durante o horário de funcionamento normal mesmo que acompanhadas de pais e/ou responsaveis. O museu é acessível a visitantes com necessidades especiais.

Acessibilidade: Todos os quatro andares do prédio são acessíveis para cadeiras de rodas; cadeiras de rodas estão disponíveis para empréstimo. É necessário um acompanhante para empurrá-las. Para mais informações sobre acessibilidade fale com a equipe do museu através do canal de Atendimento ao Visitante no telefone +1 (212) 994-9493 ou envie um e-mail para visitorservices@neuegalerie.org

Estacionamento: Há muitos estacionamentos próximo ao museu. Lembre-se que Manhattan é caro para estacionar.

📍Onde: 1048, Quinta Avenida, Nova York, NY

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